quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O coração do poeta trágico!



Stélia Castro


Pai, eu não consigo parar de pensar em você.


Queria estar aí contigo e ter o poder da cura. Ia tirar toda dor e desentupir suas veias e o sangue correria livre...


É difícil, para todos que amam você, passar por uma situação como esta, pra você principalmente na condição de enfartado, correndo riscos de vida. Mas pra nós que te amamos e estamos longe é uma agonia constante. Eu fui te ver, mas parece que não fiz nada de útil. Queria te tirar da maca, te levantar e fazer-te curado. Não pude, não posso. E, ao voltar, continuo aqui numa agonia constante... Impacientemente... Espero a tarde cair para falar com a tia Rosângela e ter notícias tuas.


Mas você está em boas mãos.


Graças a Deus a cirurgia já passou, nunca senti tanto nervoso e nem tanta dor de barriga quanto naquele dia (o dia da cirurgia). Eu e tia Rosângela - na recepção do Incor – esperávamos, ansiosas, notícias suas da sala de cirurgia. Eu andava de um lado para o outro encarando a recepcionista, para que ela não esquecesse que estávamos ali aguardando noticias suas. E a tia Rosângela, aparentemente calma, conversava com as pessoas que sentavam ao seu lado e contava as suas histórias de tristeza e esperança.


Minha tia levou iogurtes e frutas para passarmos o dia no hospital.


E não pude deixar de notar que, sem aparentar nervosismo, tia Rosângela tomava um iogurte atrás do outro, e comia uvas, comia uvas e tomava iogurte... Tomou quatro iogurtes! Cada um em uma golada só! Mas também nem almoçou, a bichinha...


De repente gritam da recepção:


- Antonio Stélio!


Eu, como já estava grudada no balcão da recepção, olhei para as cadeiras do lado para chamar minha tia. E como um mestre dos magos, tia Rosângela já aparece atrás de mim!


Disse a recepcionista:


- O cirurgião quer falar com vocês, terceiro andar.


E fomos. Sem dizer uma palavra. Ambas com um frio terrível na barriga e segurando a caganeira repentina. No elevador minha tia diz: - Vamos subir! Subir! - Caso alguém, no elevador lotado, quisesse descer ao subsolo. Ah, ela não deixaria!


Chegamos ao terceiro andar e continuamos na agonia da espera pelo cirurgião. Fitamos a sala de cirurgia não sei por quanto tempo. Então, sai um senhor de bigode branco que, em poucos minutos disse:


- Foi uma cirurgia difícil. Uma veia estava 100% entupida. A cirurgia garante 50% a 60%. Agora ele está em observação para ver como responde. De 40% a 50% depende da reação do corpo dele. Só dele.


Agradecemos e saímos.


Pai, você ficou mais de uma hora em observação, então te levaram para a UTI Cirúrgica, e só podemos te ver as 18:30. Você estava branco, pálido. Respirando pela máquina, tinha um tubo em sua boca. Tinha sondas. Enfim, quase todos os processos importantes de seus organismos sendo feito por máquinas e equipamentos. Fiquei impressionada. Impressionada com a dimensão da cirurgia, em como é agressiva. Ficamos conversando com você, mesmo sedado. Rosângela dizia:


- Força poeta do amor trágico!


E eu:


- Força pai! Agora é com você, te amo e estou aqui do seu lado.


E gostaria de vê-lo se recuperar, mas os deveres... Porém, minha tia não esquece de ligar depois da visita e me conta cada detalhe das novidades. É tão bom quando ela liga. De alguma maneira me sinto mais perto de você.


Eu te amo!


E estou com saudade, sempre! É minha (nossa) sina.


Estou doida para ver você recuperado, forte, como sempre te vi. Estou ansiosa para ver você sorrindo deliberadamente e xingando ditadores!


Então, fico a lembrar das noites que podemos ainda jantar no restaurante Água na Boca, você tomando uma taça de vinho. E eu te acompanho. O cardápio: uma salada variada para você e um filé a parmegiana para mim. E o Lian, com uma coca-cola fazendo piadinhas com você... Risos!!! Pode convidar quem mais quiser, afinal, a prole é grande...


Amo-te, poeta do amor trágico (como diz tia Rosângela).


PS: Tia Rosângela tem o coração maior que São Paulo. Ah! Bem maior! Te amo, tia!




Um comentário:

Márcio Chocorosqui disse...

Força, Stélio. Estamos ansiosos para tê-lo de volta ao nosso convívio.
Abraços e boa sorte!