Sábado, 2 de outubro de 2010
Compadre Guilherme: temos novidades.
A primeira é que a minha cirurgia, que seria realizada nesta segunda-feira, dia 4 de outubro, segundo o cardiologista Luiz Ferreira, membro da equipe, fora transferida, agora para o dia seguinte, ou seja, para a próxima terça-feira, dia 5, pela manhã.
Ainda sujeita a confirmação, porém.
Contudo, estou calmo.
A segunda e melhor notícia, no entanto, é a de que Stélia chegou. Agora tenho minha filha ao meu lado, sempre alegre e carinhosa. Ela e Rosângela estão a cuidar de mim. Veio de Goiânia. Temos uma hora por dia, mas a tolerância do pessoal aqui nos deixa juntos, às vezes, por quase duas horas.
O certo é que estou aceitando tudo com a necessária crueldade e alegria. Irrita-me, no entanto, ficar preso a um aparelho que não me permite deixar a maca-cama. Estou indo para o quarto dia nesse estado.
As enfermeiras me dão um banho por dia.
Chamam de "banho de leito". Duas delas ficam a me virar e revirar passando pano ensaboado e jogando água quente para lavar. Já estou acostumado com isso. Tenho um kit higiênico também. Acho até um exagero ter que tomar um banho todo dia!
Nesses dias que cá estou ainda não evacuei, segundo a linguagem técnica das enfermeiras; ainda não fiz cocô, segundo expressão dos educados e ainda não caguei, segundo minha própria versão. E isso apesar da dieta laxativa que a nutricionista Isabel - para quem autografei um de meus livros - me destina. Talvez hoje isso aconteça, pois os primeiros puns ameaçam essa possibilidade, quase iminente.
Conversei com a enfermeira de plantão desta noite, para entrar em um acordo: usar a cadeira com a "comadre" por baixo. Assim ficará mais confortável. É só colocá-la ao lado da cama, de um jeito que não desligue o aparelho que me monitora.
Compadre, enfim, a terceira boa notícia é a de que SS escreveu. Pensei que tinha sumido, abandonando-me. É uma pessoa d um humor interessante. Confesso que os textos dela estão me fazendo muito bem.
Veja, Guilherme, o que ela me remeteu, ontem:
- Mon ami ,
Acabei de chegar ao plantão, e quer saber? Vim correndo para ver se ainda estavas vivo. Obrigada por não ter feito feio frente às minhas expectativas. Continue assim.
Que esse coração despedaçado sofra menos do que os corações por você despedaçados...
Aqui? O inferno sobre o limbo (sol a pino, pouco vento, perfume francês em abundância (o vulgo cêcê no ar), e uma leva de gente burra!!!!
Quer ter inveja?
Ontem, para matar um sentimento saudosista que me assola, eu umedeci a boca, mergulhei minhas papilas em um vinho (rubro como sangue, denso como sangue e suculento como deve ser o sangue).
Maravilhoso, mesmo que degustado entre eu e eu mesma.
Pude assim me iludir a achar que poderia voar, a despeito dos tão famosos vampiros que sabem tudo de sangue. Eu, particularmente, não curto muito a sensualidade desses seres, eles são óbvios demais!
Quer saber o que eu acho sex em termos de seres fictícios? Ou quer arriscar e tentar me entender? Eu, a princípio acho precoce de sua parte, mas como pretensão é uma condição nata e não sine qua non do homem... Dessa forma, como pretendo que sejamos para lá de amigos vou magnanimamente te conduzindo assim: uma luz para você me decifrar.
Eu sou seduzida pelas criaturas calmas, introspectivas, reflexivas, mas acima de tudo seguidoras de uma ética, mesmo que tal só se faça entender por aquele que a segue.
Curto o filósofo nato que questiona por que veio ao mundo e não aceita a forma como se deu tal criação, e não obstante sua vontade arca com as consequências dessa gênesis (agora a luz....adivinha quem é tal ser!)
Dica um: sua criadora é uma mulher.
Dica dois: é um em muito.
Dica três: é sex e pueril simultaneamente.
Mon ami - ocorreu-me nesse exato momento que posso estar indo além de uma breve visita de cova e, assim sendo, não posso me demorar. Deixe-se cuidar, sim? É o que você tem a fazer nesse momento.
E a respeito de minhas colegas que se acham, elas podem e você, nesse momento, não.
Agora descanse e não morra.
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