quarta-feira, 2 de março de 2011

O que não me mata me fortalece



“Eu quis morrer, então eu via que eu não morria, eu só queria morrer de muito amor por ti...”, sonorizava Nana Caymmi.


A frase autenticamente nietzschiana popularizou-se porque deixou as academias e adentou pelos cafés, bares, restaurante e conversas de grupos mais chegados às questões filosóficas.

Logo virou expressão entre eruditos.

E logo vovó ouviu a conversa e achou a frase interessante. Sem pejo e com muita compreensão de seu significado, ela passou a bola para frente. E vovó falava até com maestria quando se expressa com o que não me mata me fortalece. Mas que também se expressa com o que não mata, engorda.

Vovó sempre foi mulher de exemplo

Ela dava aulas sobre o seu significado. Felizes dos netos que aprenderam a lição. “O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte” ou ainda melhor “da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte." A rigor, foram as palavras de Nietzsche. Outras publicações dão conta de traduções, tais como “aquilo que não me destrói fortalece-me”.

Mas vovó falava das superações, da dor do enfrentamento da vida, da tragicidade da existência humana, com suas agruras e impertinências a serem superadas. Falava do esforço para não morrer. Do aprendizado que a vida ensinava para fortalecer com a experiência. Para vovó tudo é assim, bem simples.

Tudo é seis. Tudo é meia-dúzia. Tudo é Nietzsche.

Ora, a vida sendo trágica é mais do que natural que as pessoas atravessem acasos muitas vezes nada agradáveis. Os percalços da vida calejam corações e almas, assim como calejam a mão do roceiro trabalhador.

As dificuldades alimentam o espírito de força.

Quem passou por grandes perdas e sobreviveu. Superou-se, se fortaleceu. Não morreu. Quem sofreu uma grande frustração de amor e deu a volta por cima saiu-se mais fortalecido para a vida e para lidar melhor com as armadilhas do amor.

A vida tem uma didática esquisita: ensina na bordoada.

“A vontade se superar um afeto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afetos”, eis o que diagnóstica o médico de almas livres, o doutor Nietzsche.

Ele sabia que as emoções falam mais alto que as razões.

Alguém afirmou que ninguém sai de um episódio melhor ou pior do que entrou, mas, com certeza, sai mais resistente, mais imunizado, mais forte para enfrentar desafios semelhantes.

E nesse caso, a subjetividade é que manda e decide. Não há uma regra.

Quem supera um câncer, quem passa por uma cirurgia cardíaca e quem consegue sobreviver diante de uma doença tida como incurável, não pode sair a mesma pessoa dessa situação. O tempo prova que a pessoa, de alguma maneira se modificou e se fortaleceu em algumas de suas manifestações de personalidades.

Ninguém é tão burra que não consiga aprender uma lição.

"Tudo o que é reto mente. Toda verdade é sinuosa. O próprio tempo é um círculo”, ensina Nietzsche, que esclarece que dentro deste tempo a gente manifesta as mudanças que adquirimos, como uma “verdade sinuosa”.

O próprio Nietzsche não deixou de ser cobaia de si mesmo

“Mesmo nos tempos de mais grave doença, nunca me tornei doentio”, escrevera. E ele foi um doente que nunca usou sua doença para choramingar, se fortalecia com ela.

Nietzsche nunca teve um amor feliz.

Nem mesmo Lou Salomé, a quem tanto amou, deu-lhe a alegria dos beijos apaixonados e a experiência de um relacionamento intelectualizado. Mas, nem por isso, Nietzsche deixou de falar de amor com tanta propriedade, com tanta sapiência.

Ele chafurdou o quanto pode com as libertinas de Paris – que para ele eram espíritos livres – onde ganhou vasta experiência amorosa, e uma sífilis, da qual nunca se livrou e que pode tê-lo matado.

Todo o seu sofrimento em vida nunca o definharam.

Seu sofrimento o fortaleceu. Suas fortes e constantes dores de cabeça amenizadas pela morfina, não o impediram de refletir sobra a existência e de reafirmar, com alegria um enorme amor pela vida, que ele chamava de amor fati.

Amar a vida, eis o que fortalece o homem.







4 comentários:

Anônimo disse...

Antonio,

li dois textos do seu blog, a respeito da visão política de aristóteles e platão, pra fins acadêmicos, mas surpreendi-me com a qualidade do texto, excepcional, o que é raríssimo na internet afora.


só queria aconselhar-te - talvez seja problema meu mesmo - que o fundo e a fonte da letra, em si, distraem (ou, ainda, cansam) um pouco, uma vez que, para ler, tive que colar o post no word e mudar a fonte. não é uma crítica, é apenas uma sugestão mesmo..

parabéns pela iniciativa e, não obstante, pelo conteúdo do blog! =)

mazé Oliveira disse...

Desde que li o primeiro texto que falava sobre Nietzsche me interessei e me apaixonei por suas idéias. Também acredito que o que não mata fortalece! Um abraço!Também escrevo minhas idéias num blog digamos modesto. Aparece por lá. Um abraço!

Moniky Diaz disse...

Estou completamente apaixonada por Nietzsche,depois de tantas pesquisas pra entender melhor esse filosofo que me leva ao estremo das minhas emoções. encontro essa postagem magnifica de Nietzsche seu olhar sobre Ele, faz mostrar como Nietzsche era Humano (Pois o que não mata torna-me mais forte :)

Moniky Diaz disse...

Estou completamente apaixonada por Nietzsche,depois de tantas pesquisas pra entender melhor esse filosofo que me leva ao estremo das minhas emoções. encontro essa postagem magnifica de Nietzsche seu olhar sobre Ele, faz mostrar como Nietzsche era Humano (Pois o que não mata torna-me mais forte :)