“O amor é o estado no qual os homens tem mais possibilidade de ver as coisas tal como elas não são”. Pronto! Em apenas uma frase Nietzsche explicou tudo, e deixou bem claro porque o amor, definitivamente, é cego. Simplesmente, o apaixonado ver as coisas por uma lógica diferente, ilógica aos olhos da maioria.
Nietzsche foi cirúrgico, perfeito, sintético, profundo.
O amor envolve corpo e mente, e ambos ficam anestesiados. Somente quem sente o que diz sentir pode sentir verdadeiramente o que sente. Somente quem está apaixonado pode saber o que ver, embora o que veja, não seja, necessariamente, o que todos vemos.
Quem ama vê unicamente.
Vovó dizia que o amor é cego porque quem ama o feio, bonito este lhe parece. Podem dizer o que quiserem, mas não existe feiura na pessoa amada, do ponto de vista daquela que a ama.
O que existe é “uma beleza diferente e exótica” para a pessoa apaixonada.
Mais eloquente sobre o amor, sem dúvida, são os poetas, seja o amor cego ou ligeiramente vesgo, é bom que se diga, somente os vates sabem vaticinar algo que mais se aproxima, verdadeiramente, de uma explicação para esta cegueira. Ou ilusão. Eu mesmo, eu um de meus poemas, assim me declarei:
- te amo tão completamente/que o amor transborda/incessantemente/inundando o coração/é um amor tão louco/ que não se compara/nem ao céu/nem ao oceano/e o universo/é pouco/mas/eu te amo tão profundamente/que caso amor e perfeição/e tudo/tudo pulsa/numa só pulsação.
A visão gigantesca desse amor somente por mim era sentida. Sua dimensão era tudo o que pudesse ser abarcado, e sua profundidade tudo que pudesse ser penetrável. O universo era pouco. O amor que sentia era o mundo inteiro. E era só o que enxergava.
Mas, o que existe além dele?
"Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos, não por vaidade, mas porque o objeto amado não deve sofrer. Sim, aquele que ama desejaria aparecer como um deus, e isto não por vaidade."
Esta é a resposta de Nietzsche.
Mas, a ciência moderna também se envereda por esta trilha perigosa e arrisca com muitas de suas deduções, pesquisas, estudos, sempre em busca de uma resposta para a insanidade e para a cegueira amorosa.
As explicações abundam para todos os gostos.
Alguns destes estudos, por exemplo, explica que quando a pessoa está apaixonada por alguém, seu cérebro desativa estruturas responsáveis pelo julgamento crítico, para nos manter alerta contra ameaças do ambiente.
Pelo menos é isto o que dizem alguns especialistas.
E eles vão mais além: os mecanismos cerebrais que identificam as atitudes dos outros de forma crítica são desativados. Dessa forma o apaixonado dificilmente consegue ver os defeitos e desconfiar da pessoa amada, afirma um neurologista. "O amor torna o cérebro humano literalmente incapaz de prestar atenção em rostos muito bonitos”, explicam os cientistas.
Algum fundo de verdade isso tem, pois, nosso metabolismo é outro quando estamos apaixonados. Parece que pisamos em ovos sem quebrá-los e ficamos nas nuvens sem voar.
Sim, definitivamente, o estado de quem está apaixonado é mágico.
Simplesmente mágico. Magistralmente mágico. Talvez por isso a única explicação ou justificação plausível seja algo da mesma natureza, de igual semelhança: algo mágico, poeticamente mágico. Humanamente mágico.
Ou isso ou continuamos envolvido nesse processo de alquimia.
"Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável!", esbraveja, pois, contundente, o velho Nietzsche, como quem sabe que o amor é apenas um pingo que tempera a imensidão da alma.
Como uma gota de perfume que inebria.
Contudo, devido ao caráter trágico do amor que traz em sua essência toda a sua animalidade, muitos acabam se perdendo nela, cegando-se para sempre. Por isso, para muitos, o amor torna-se um verdadeiro inferno.
O amor não é um enfeite, mas uma parte da condição humana.
Daí que muitos amantes entram em agonia. Pelo menos aqueles que incham o amor com adjetivações que nada tem a ver com o instinto natural desse sentimento, que é demasiadamente humana, profundamente necessário à nossa existência e, principalmente, ele não veste as carapuças ou roupagens de valores com que querem orná-lo. Por isso ou se cega ou se quebra, a cara, claro.
Do céu para o inferno a via é tênue. E veloz.
"Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens”, cantou Nietzsche como o profeta Zaratustra tentando mostrar que o amor é uma necessidade. Tão necessário que até Deus carece dele. E como toda necessidade deve ser usada com equilíbrio, sem exagero, para não se quebrar a harmonia nem fugir da medida certa.
Pois, como dizia minha Vó, “água de mais mata a planta”.
Um comentário:
Muito bom!
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