Eis um ditado com profunda reflexão filosófica.
Talvez nenhum outro ofereça tantos ângulos de observações como este, que tem uma diversidade de facetas para todos os gostos; modos de apresentações diversificadas e que, mesmo assim, ainda dar de cara com o tipo que, simplesmente, não entende, não quer ver.
O vencido pela obtusidade. Este é o pior cego.
Quanto à origem do ditado, o mais corrente pelos quatro cantos do mundo enquanto visão enciclopédica é uma historieta que se revelou na Idade Média, na Europa, mas propriamente na velha França.
Sempre os franceses... E seus fricotes.
Contam os pesquisadores de abobrinhas que, em 1647, em Nimes, na França, onde existia uma universidade local de criteriosos estudos e grandes avanços, o doutor Vicent de Paul D`Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel.
Eram meados do século XVII.
Como não poderia deixar de ser, o acontecimento foi uma revolução e um enorme sucesso para a medicina da época. Estranhamente, menos para Angel, o aldeão, que, assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via.
Talvez esperasse outra coisa do que passou a ver.
Disse ele, por exemplo, que o mundo que imaginava era muito melhor. Mais estranhamente ainda, porém, ele pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos, e que o cegasse novamente. Insistia no pedido, com veemência.
Ele queria voltar a ser cego.
O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel, o aldeão francês ganhou a causa e entrou para história como o cego que não quis ver. Provou que poderia viver sem ter que ver um mundo tão cruel. E assim ele viveu os restos de seus dias. Sem nada ver.
A história é muito bonita, embora mais pareça uma parábola.
Ela, entretanto, não corresponderia ao ditado, pois, no caso, Angel, o aldeão, não se trataria do pior cego, mas meramente um cego de bom coração que optou em não ver a excrescência humana. Ou então o pior cego pode ter um bom ou um mau coração, não importa, basta apenas desistir de ver, que será o pior.
"O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência."
O ensinamento acima, de Nietzsche, ilustra que não interessa o mundo em que vivamos, sempre vamos procurar botar defeito nele, criar deuses, inventar verdades, julgar e condenar as pessoas. Somente enxergamos neste mundo aquilo que desejamos enxergar, aquilo que nos interessa.
Passa-se com o homem o mesmo que com a árvore.
“Quanto mais quer crescer para o alto e para a claridade, tanto mais suas raízes tendem para a terra, para baixo, para a treva, para a profundeza - para o mal”, ilustra o ilustre bigodudo Nietzsche.
Outros opinam que esse tipo de homem que não quer ver, é que nem um avestruz que mete a cabeça no buraco para nada ver. Mas a verdade não é bem assim. Pelo menos sobre o avestruz, bastante injustiçado neste caso.
O avestruz não mete a cabeça no buraco para deixar de ver. Ou se esconder, mas para comer.
Ora, o avestruz é a maior ave do planeta, sempre carregou a fama de ser um animal frágil e medroso. Não é ele que, em desenhos animados ou histórias em quadrinhos, diante de qualquer dificuldade, corre para enterrar a cabeça em um buraco?
Pura lenda.
Esse comportamento, na verdade, não tem nada de covarde, mas é natural do bicho que passa grande parte do seu dia comendo. Os pesquisadores descobriram que, ao meter a cabeça num buraco, o avestruz não faz nada mais do que procurar algum tipo de roedor ou outro vertebrado para matar sua insaciável fome.
Portanto, não o usem como exemplo da cegueira ignorante que é própria do homem. Por isso é que Nietzsche nos alerta sobre essa inteligente questão:
- O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir. Assim, fica claro que a ótica humana, por ser subjetiva, é limitada e inconfiável.
Se o aldeão francês se recusou a ver tanta ignomínia sobre a terra, por que não buscou ver o seu oposto? Por que ignorou a arte? O teatro estava lá, a música tocava nos violinos, os versos varavam as madrugadas. Mas ele não quis saber de nada disso. Ele somente enxergou o mal, como mandava seu coração.
Tinha mais era que ficar cego mesmo, o bruto.
"Só como fenômeno estético a existência e o mundo aparecem eternamente justificados." Como fenômeno estético, pois, concebemos a própria arte. E a arte, para Nietzsche ajuda a suportar a vida. Mas, “há espíritos que escurecem suas águas para fazê-las parecer profundas”. Para esse estará sempre à mostra o trágico inerente à existência, sem que seu antídoto, a alegria possa ter a sua vez de ser contemplada, vivida. A alegria, o antídoto, para o trágico.
Cada um somente ver o que lhe convém, por isso Nietzsche afirmou:
- As paisagens insignificantes existem para os grandes paisagistas; as paisagens raras e notáveis são para os pequenos.
Em tudo, o infeliz prefere ver o desarranjo, a nevasca, a tempestade de areia e a inundação sinistra que mata o homem. O homem que não deseja enxergar a vida, apenas ver loucura em tudo, esquecendo-se que “nos indivíduos, a loucura é algo raro, mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra”, como observava Nietzsche.
Que enxerguemos, pois, todas as nuances da existência humana.
E que percebamos, por fim, que uma boa dose de loucura faz muito bem para a saúde. O que não faz bem às pessoas, de modo geral, é fazê-las enxergar um mundo imaginário e um deus invisível.
Mas isso, os tolos enxergam. Até o pior cego também, quero crer.
Não é por outra coisa que sou forçado a crer que, a rigor, o pior cego não é só exatamente aquele que não quer ver, mas também aquele que ver o que não existe. E pior, crer.
O cristão, por exemplo.
Talvez nenhum outro ofereça tantos ângulos de observações como este, que tem uma diversidade de facetas para todos os gostos; modos de apresentações diversificadas e que, mesmo assim, ainda dar de cara com o tipo que, simplesmente, não entende, não quer ver.
O vencido pela obtusidade. Este é o pior cego.
Quanto à origem do ditado, o mais corrente pelos quatro cantos do mundo enquanto visão enciclopédica é uma historieta que se revelou na Idade Média, na Europa, mas propriamente na velha França.
Sempre os franceses... E seus fricotes.
Contam os pesquisadores de abobrinhas que, em 1647, em Nimes, na França, onde existia uma universidade local de criteriosos estudos e grandes avanços, o doutor Vicent de Paul D`Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel.
Eram meados do século XVII.
Como não poderia deixar de ser, o acontecimento foi uma revolução e um enorme sucesso para a medicina da época. Estranhamente, menos para Angel, o aldeão, que, assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via.
Talvez esperasse outra coisa do que passou a ver.
Disse ele, por exemplo, que o mundo que imaginava era muito melhor. Mais estranhamente ainda, porém, ele pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos, e que o cegasse novamente. Insistia no pedido, com veemência.
Ele queria voltar a ser cego.
O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel, o aldeão francês ganhou a causa e entrou para história como o cego que não quis ver. Provou que poderia viver sem ter que ver um mundo tão cruel. E assim ele viveu os restos de seus dias. Sem nada ver.
A história é muito bonita, embora mais pareça uma parábola.
Ela, entretanto, não corresponderia ao ditado, pois, no caso, Angel, o aldeão, não se trataria do pior cego, mas meramente um cego de bom coração que optou em não ver a excrescência humana. Ou então o pior cego pode ter um bom ou um mau coração, não importa, basta apenas desistir de ver, que será o pior.
"O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência."
O ensinamento acima, de Nietzsche, ilustra que não interessa o mundo em que vivamos, sempre vamos procurar botar defeito nele, criar deuses, inventar verdades, julgar e condenar as pessoas. Somente enxergamos neste mundo aquilo que desejamos enxergar, aquilo que nos interessa.
Passa-se com o homem o mesmo que com a árvore.
“Quanto mais quer crescer para o alto e para a claridade, tanto mais suas raízes tendem para a terra, para baixo, para a treva, para a profundeza - para o mal”, ilustra o ilustre bigodudo Nietzsche.
Outros opinam que esse tipo de homem que não quer ver, é que nem um avestruz que mete a cabeça no buraco para nada ver. Mas a verdade não é bem assim. Pelo menos sobre o avestruz, bastante injustiçado neste caso.
O avestruz não mete a cabeça no buraco para deixar de ver. Ou se esconder, mas para comer.
Ora, o avestruz é a maior ave do planeta, sempre carregou a fama de ser um animal frágil e medroso. Não é ele que, em desenhos animados ou histórias em quadrinhos, diante de qualquer dificuldade, corre para enterrar a cabeça em um buraco?
Pura lenda.
Esse comportamento, na verdade, não tem nada de covarde, mas é natural do bicho que passa grande parte do seu dia comendo. Os pesquisadores descobriram que, ao meter a cabeça num buraco, o avestruz não faz nada mais do que procurar algum tipo de roedor ou outro vertebrado para matar sua insaciável fome.
Portanto, não o usem como exemplo da cegueira ignorante que é própria do homem. Por isso é que Nietzsche nos alerta sobre essa inteligente questão:
- O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir. Assim, fica claro que a ótica humana, por ser subjetiva, é limitada e inconfiável.
Se o aldeão francês se recusou a ver tanta ignomínia sobre a terra, por que não buscou ver o seu oposto? Por que ignorou a arte? O teatro estava lá, a música tocava nos violinos, os versos varavam as madrugadas. Mas ele não quis saber de nada disso. Ele somente enxergou o mal, como mandava seu coração.
Tinha mais era que ficar cego mesmo, o bruto.
"Só como fenômeno estético a existência e o mundo aparecem eternamente justificados." Como fenômeno estético, pois, concebemos a própria arte. E a arte, para Nietzsche ajuda a suportar a vida. Mas, “há espíritos que escurecem suas águas para fazê-las parecer profundas”. Para esse estará sempre à mostra o trágico inerente à existência, sem que seu antídoto, a alegria possa ter a sua vez de ser contemplada, vivida. A alegria, o antídoto, para o trágico.
Cada um somente ver o que lhe convém, por isso Nietzsche afirmou:
- As paisagens insignificantes existem para os grandes paisagistas; as paisagens raras e notáveis são para os pequenos.
Em tudo, o infeliz prefere ver o desarranjo, a nevasca, a tempestade de areia e a inundação sinistra que mata o homem. O homem que não deseja enxergar a vida, apenas ver loucura em tudo, esquecendo-se que “nos indivíduos, a loucura é algo raro, mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra”, como observava Nietzsche.
Que enxerguemos, pois, todas as nuances da existência humana.
E que percebamos, por fim, que uma boa dose de loucura faz muito bem para a saúde. O que não faz bem às pessoas, de modo geral, é fazê-las enxergar um mundo imaginário e um deus invisível.
Mas isso, os tolos enxergam. Até o pior cego também, quero crer.
Não é por outra coisa que sou forçado a crer que, a rigor, o pior cego não é só exatamente aquele que não quer ver, mas também aquele que ver o que não existe. E pior, crer.
O cristão, por exemplo.
Um comentário:
Olá Antonio Stélio, li o artigo q fala sobre o "pior cego", no final deste comentário vc coloca que: "o pior cego seria o cristão", correto? fiquei curioso para saber o que o levou a esta conclusão.
Se quiser gostaria de discutir o assunto... Valeu Rodrigo.
Postar um comentário