domingo, 14 de novembro de 2010

Obrigado, deputado Luiz Calixto!

No meu tempo de militância estudantil participava de uma turma, em Ribeirão Preto, que tinha o sonho de justiça social alimentado pela injeção de metáforas poéticas.


Pela poesia rebelde, claro.

E, poeta que era, destacava-me não só pela produção literária pessoal, mas esbanjava no repertorio. Apaixonado que era pela leitura, também recitava versos de grandes vates europeus.

Sempre em companhia de uma boa cerveja, evidentemente.

Dentre os versos que declamava amiúde estava um de Berthold Brecht - dramaturgo e poeta alemão -, muito na moda para os rebelados da década fatídica de setenta, que dizia:

- Há homens que lutam um dia, e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; existem também aqueles que lutam muitos anos, e são melhores ainda; porém, existem aqueles que lutam a vida inteira, e estes, são imprescindíveis!


Muitos desses versos caíram em desuso ou até se tornaram piegas para a geração da parafernália eletrônica. Mas, as palavras de boas verves, os versos que ardem à queima-roupa, jamais perdem o viço, a forca mística.

A palavra e o seu significado, afinal, foi o que mudou o mundo. Não foi a invenção da roda nem a descoberta do fogo. O que alavancou a historia e fez a joça desse mundo se mover foi a descoberta da palavra.

Do poder da palavra sobre o homem.

Por isso, como cidadão acreano, como jornalista e observador do cenário politico do Acre, não posso deixar de ofertar os versos de Brecht ao deputado Luiz Calixto, o último dos seringueiros-gladiadores que se posta contra a ignomínia e a desfaçatez dos lobos travestidos de cordeiros.

E ele ficou mais forte no limbo da luta.

Sempre se manteve firme na peleja. E pagando um preço que somente ele pode aquilatar. O que enfrentou - e ainda enfrenta - revela a alma de um lutador e o espirito de um acreano que honra a memória de nossos antepassados.

O deputado Luiz Calixto, como bom cabrito, não berra.

Eis um sujeito que honra a calça que veste.

Luiz Calixto talvez tenha sido a pessoa mais perseguida politicamente na última década em todo o Estado; ele teve seu telefone permanentemente grampeado; como parlamentar foi deveras monitorado, e até hoje, se encontra vitimado pelo ódio dos que se acham donos do Acre, inclusive, da alma de toda a gente que o habita.

Mas, ele resistiu a todas as intempéries.

Claro, sofreu. E também não deixou de sentir dor. Tornou-se estoico, no entanto, depois de calejado. Calixto não se rendeu nem caiu nas arapucas que lhe foram armadas. Prevaleceu sua sina de guerreiro guiado por sua convicção politica. Prevaleceu o caráter do homem.

De um homem com vergonha na cara.

Por motivo alheio a minha vontade não pude acompanhar o pleito deste ano. E agora que retornei convalescente entristeci-me com a sua não reeleição. Conforta-me, entretanto, a certeza de saber que Calixto, como um voraz animal politico, vai dar um jeito de manter viva a sua tão necessária trincheira. Para a nossa sorte.

Por isso não me escuso em dizer: obrigado Calixto.

Você será sempre imprescindível.



segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mulher parida

E ai meu compadre, o que estás a fazer pela banda daí?

Nós aqui continuamos a apostar na vida, pois acreditamos que é preciso penetrar, através do olhar estético existencial, nas águas mais profundas das nossas aspirações e desejos, para percebermos a importância de uma vida prazerosa, sem olhares de cobrança, tampouco, a preocupação com o antes ou com o depois.

Mas tão só desfrutar com alegria o divertimento da expressão do presente. Estamos felizes pela tua recuperação! O Dionísio diz para todo mundo que o padrinho dele fez uma cirurgia em São Paulo.

Meu bom compadre, Stélio, tu estás com uma cara de mulher parida do caralho! Brincadeira!

Risos eternos!

Saudações trágicas!

Guilherme da Silva Cunha

Filósofo trágico, por acreditar que a vida seja o valor maior.









sábado, 30 de outubro de 2010

O Escaravelho da Floresta

Depois de quase seis meses escrevendo diariamente o meu romance, que intitulei provisoriamente de "O Escaravelho da Floresta", me senti aliviado. E triste ao mesmo tempo, pois estava vivendo intensamente a história,
Mas, tinha que terminá-lo e enviá-lo para revisão.

Escrevei os últimos capítulos aqui em São Paulo, no pré-operatório. No Incor, e também nos pós-operatório. Escrever era o bálsamo que me aliviava todos os dias,

Eu coloquei o ponto final a exatamente rês dias atrás, quando encerrei o vigésimo capítulo, uma espécie de epílogo. Fiquei alegre ao terminá-lo. E triste também, pois agora sinto falta da trama e dos personagens...

Então remeti o texto para o meu revisor oficial e de profunda confiança, o Márcio Chocoroqui, um intelectual que não se furta à humildade e ao capricho pelo que faz, além de ser um dos papos mais interessantes de todo o Acre.

Márcio me respondeu, assim:

"Dei uma olhada no livro, por alto.


Após o segundo turno e o feriadão começo a revisão. Agora, os convites para tomar cerveja proliferam. E não posso recusar. Pelo que vi, nas primeiras páginas, não dará muito trabalho.


Não se preocupe que em breve estará pronto.


Não sei se você terá pressa nisso. Considerando tudo por que você passou, talvez sim. Talvez cada instante da vida, agora, lhe seja precioso. Mas não tenha pressa não. Creio que seja o momento de ter tranquilidade, ver tudo com parcimônia.


Enquanto digito isto, chove. E o barulho da chuva revela que tudo na natureza tem o seu tempo, pois a chuva rega as plantas, que florescerão e darão frutos na hora certa.


Também as águas fluirão para os rios e igarapés. Tudo num ritmo lento e espontâneo. E é assim que deve ser. Stélio: sem a pressa destes tempos modernos e com a naturalidade que o rio Acre, por exemplo, toca suas águas.


Um forte abraço e boa recuperação."

Obrigado Márcio, que o acaso o premie com os bons fluídos.







quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Visitas

Em recuperação e prestes a voltar para o Acre sofro ainda com os incômodos das sequelas da agressiva intervenção cirurgica. Resumo-a assim: ela fragiliza até a alma do sujeito.


Dói o peito, dói a perna – de onde foram tiradas as safenas.

Tive dois retornos no Incor, em dois dias seguidos. O primeiro foi ao médico, que alterou a receita aumentando o número de remédios e redobrando os conselhos para mais repouso.

Repouso absoluto.

Também fiz retorno para o curativo: apemas para constatar uma necrose na coxa, suspender o remédio que vinha passando e substituí-lo pela papaína, uma loção manipulada e antiga. Ela deve destruir a crosta preta que se forma até curá-la.

Alegam que o processo levará de dois a três meses.

A boa notícia fica por contas das visitas que recebei.

Primeiro foi a do parceiro das letras Dandão, que cumpre seus últimos anos de doutorado em aqui em São Paulo. Está mais gordo. O humor continua o mesmo. A inteligência continua sofisti8cado. E o jeitão acreano de ser ainda se esbanja com carinho. Papeamos por mais de uma hora.

Foi agradabilíssimo. De lambuja ganhei um exemplar autografado de seu último livro: Trilhas Urbanas, de edição caprichada. É minha leitura atual, enquanto convalescente.

Afonso Sávio, uma espécie de anjo do asfalto, um poeta, ex-seminarista, que conheci na emergência, também visitou-me rapidamente. Disse boas palavras e deixou um pouco de sua aura positiva no ambiente.

De resto estou ansioso para voltar.

PS: Em definitivo concluí o meu romance, O ESCARAVELHO DE FLORESTA, que agora vou remeter para revisão. Publico-o ano que vem.

A todos um abraço.

sábado, 23 de outubro de 2010

O acaso não é por acaso

Meu bom e generoso compadre, Stélio, realmente a porra do acaso foi extremamente bondoso conosco, estamos vivos, e a vida enquanto vida, ela simplesmente é.

Chutar a bola da vida é tudo que deve ser;

É arma de um artista que quer ver acontecer no reino bem-amado os frutos dos que amam a terra.

As perspectivas do caminho estão abertas;

Os frutos não podem se estragar;

O desejo e o amor pela terra devem reinar.

A dádiva do acaso, que nos permite bons encontros, é generosa e nos pede intensidade.

O homem que não pára para refletir corre o risco de perder os passos.

O homem que não tem tempo para si não tem audácia para vencer com serenidade.

O fim do pensamento criativo é o começo da escravidão da liberdade.

Nobre compadre, Stélio, sejamos vulcânicos em nossas ideias para rompermos com as consciências medianas.

Congratulações filosóficas!

Viva a filosofia trágica que não tem medo de arriscar sempre novos horizontes, pelo fato de acreditar no homem e no instante que a vida proporciona!

Guilherme da Silva Cunha

Filósofo trágico

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O coração do poeta trágico!



Stélia Castro


Pai, eu não consigo parar de pensar em você.


Queria estar aí contigo e ter o poder da cura. Ia tirar toda dor e desentupir suas veias e o sangue correria livre...


É difícil, para todos que amam você, passar por uma situação como esta, pra você principalmente na condição de enfartado, correndo riscos de vida. Mas pra nós que te amamos e estamos longe é uma agonia constante. Eu fui te ver, mas parece que não fiz nada de útil. Queria te tirar da maca, te levantar e fazer-te curado. Não pude, não posso. E, ao voltar, continuo aqui numa agonia constante... Impacientemente... Espero a tarde cair para falar com a tia Rosângela e ter notícias tuas.


Mas você está em boas mãos.


Graças a Deus a cirurgia já passou, nunca senti tanto nervoso e nem tanta dor de barriga quanto naquele dia (o dia da cirurgia). Eu e tia Rosângela - na recepção do Incor – esperávamos, ansiosas, notícias suas da sala de cirurgia. Eu andava de um lado para o outro encarando a recepcionista, para que ela não esquecesse que estávamos ali aguardando noticias suas. E a tia Rosângela, aparentemente calma, conversava com as pessoas que sentavam ao seu lado e contava as suas histórias de tristeza e esperança.


Minha tia levou iogurtes e frutas para passarmos o dia no hospital.


E não pude deixar de notar que, sem aparentar nervosismo, tia Rosângela tomava um iogurte atrás do outro, e comia uvas, comia uvas e tomava iogurte... Tomou quatro iogurtes! Cada um em uma golada só! Mas também nem almoçou, a bichinha...


De repente gritam da recepção:


- Antonio Stélio!


Eu, como já estava grudada no balcão da recepção, olhei para as cadeiras do lado para chamar minha tia. E como um mestre dos magos, tia Rosângela já aparece atrás de mim!


Disse a recepcionista:


- O cirurgião quer falar com vocês, terceiro andar.


E fomos. Sem dizer uma palavra. Ambas com um frio terrível na barriga e segurando a caganeira repentina. No elevador minha tia diz: - Vamos subir! Subir! - Caso alguém, no elevador lotado, quisesse descer ao subsolo. Ah, ela não deixaria!


Chegamos ao terceiro andar e continuamos na agonia da espera pelo cirurgião. Fitamos a sala de cirurgia não sei por quanto tempo. Então, sai um senhor de bigode branco que, em poucos minutos disse:


- Foi uma cirurgia difícil. Uma veia estava 100% entupida. A cirurgia garante 50% a 60%. Agora ele está em observação para ver como responde. De 40% a 50% depende da reação do corpo dele. Só dele.


Agradecemos e saímos.


Pai, você ficou mais de uma hora em observação, então te levaram para a UTI Cirúrgica, e só podemos te ver as 18:30. Você estava branco, pálido. Respirando pela máquina, tinha um tubo em sua boca. Tinha sondas. Enfim, quase todos os processos importantes de seus organismos sendo feito por máquinas e equipamentos. Fiquei impressionada. Impressionada com a dimensão da cirurgia, em como é agressiva. Ficamos conversando com você, mesmo sedado. Rosângela dizia:


- Força poeta do amor trágico!


E eu:


- Força pai! Agora é com você, te amo e estou aqui do seu lado.


E gostaria de vê-lo se recuperar, mas os deveres... Porém, minha tia não esquece de ligar depois da visita e me conta cada detalhe das novidades. É tão bom quando ela liga. De alguma maneira me sinto mais perto de você.


Eu te amo!


E estou com saudade, sempre! É minha (nossa) sina.


Estou doida para ver você recuperado, forte, como sempre te vi. Estou ansiosa para ver você sorrindo deliberadamente e xingando ditadores!


Então, fico a lembrar das noites que podemos ainda jantar no restaurante Água na Boca, você tomando uma taça de vinho. E eu te acompanho. O cardápio: uma salada variada para você e um filé a parmegiana para mim. E o Lian, com uma coca-cola fazendo piadinhas com você... Risos!!! Pode convidar quem mais quiser, afinal, a prole é grande...


Amo-te, poeta do amor trágico (como diz tia Rosângela).


PS: Tia Rosângela tem o coração maior que São Paulo. Ah! Bem maior! Te amo, tia!