sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pérolas chinesas de sabedoria

Inteligência Criadora, "é talvez o mais profundo de todos os homens". Êle olha o europeu — talvez com justiça — como um bárbaro. Os chineses têm uma teoria interessante a respeito da origem da raça humana. O Primeiro Homem, Pan Ku, modelou a forma do universo (assim dizem eles) há justamente, 2.231.000 anos. "Seu hálito tornou-se o vento, sua voz tornou-se o trovão, seus olhos tornaram-se o sol e a lua, seus cabelos tornaram-se a relva e as árvores, e seus parasitas tornaram-se a raça humana".
Os filósofos chineses, como vedes, têm um fino senso de humor. A seguinte anedota ilustrará melhor o rico sabor de seu humor. Um homem rico afogou-se no rio Wei. Seu corpo foi encontrado por um pescador, que exigiu enorme soma em paga. A família do afogado foi aconselhar-se com o famoso filósofo Teng Shih. "Não pagueis o que pede o pescador, aconselhou Teng. Êle entrará num acordo, porque nenhuma outra família desejará o corpo". Quando o pescador viu que não podia obter o preço que havia pedido, alarmou-se e foi também aconselhar-se com Teng. "Não abaixe seu preço, aconselhou Teng, ironicamente, files terão de chegar a uni acordo, porque nenhuma outra pessoa há de querer ficar com o corpo".

Ficamos sem saber qual o fim da história. Conta-se, porém, que a cabeça demasiado astuta de Teng foi finalmente removida de seu corpo, por ordem do rei.

Maior filósofo ainda que Teng Shih foi Lao-tze (seu nome significava Velho Mestre). Por mais estranho que pareça, sua filosofia era a condenação de toda a filosofia. O saber, dizia êle, não conduz necessariamente à virtude. Como prova, vê-se que um homem que sabe demais é geralmente um patife. "Quando renunciamos a saber, de-sembaraçamo-nos de nossas inquietações". Um avisado chefe ensinará seus comandados a serem simples e ignorantes. Quando o povo sabe demais, recusa-se a ser governado. Os chefes deverão evitar os conselheiros sábios. Somente saberão confundi-los e lançar seu país na desordem. "A nação mais feliz — dizia êle, e talvez também falasse ironicamente — é aquela que não tem livros, nem legistas, nem professores, mas somente negociantes e lavradores aldeões". O povo de tal país dar-se-á por contente com seu alimento inferior, suas roupas grosseiras e suas casas rústicas.

Lao-tze acreditava numa volta a natureza. Àdvoga-ya a virtude da vida simples. Era o Rousseau chinês. "O mais feliz dos homens é aquele que dominou sua ambição, e o mais sábio dos homens é aquele que reconheceu a loucura de seu saber". É devido em grande parte à filosofia de Lao-tze que os chineses permaneceram até hoje uma raça tão desambiciosa e, como muitos sustentam, tão sábia.

A filosofia de Lao-tze muito concorreu para moldar o caráter e o pensamento de Confúcio, um dos mais extraordinários mestres religiosos da história. Exerceu também profunda influência sobre o filósofo chinês, surgido mais tarde, Mo Ti. "É a ambição de poucos a responsável pelas desgraças de muitos" — observou Mo Ti. "O egoísmo está na base de todos os males. Por causa de seu egoísmo, o forte oprime o fraco, o rico esbulha o pobre, o nobre tiraniza o plebeu e o velhaco suplanta o ingênuo. É na verdade um estranho mundo esse em que vivemos", diz Mo Ti, em palavras que soam como se fossem pronunciadas em pleno século XX. "Neste nosso desconsertado mundo, se um homem rouba um porco, vai para a cadeia; se rouba um país, sobe a um trono".

De Mo Ti e Bernardo Shaw temos um hiato de mais de 2.000 anos. Contudo Shaw exprimiu quase exatamente a mesma idéia, com quase exatamente as mesmas palavras. O velho sábio chinês foi digno mestre do inteligente e moderno irlandês.




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