terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


A vida é trágica, viva!

Por Moura Neto

Inspirado talvez em Nietzsche - “O gosto de minha morte na boca deu-me perspectiva e coragem. O importante é a coragem de ser eu mesmo”  - o poeta e jornalista Antônio Stélio avisa os amigos, eu entre eles, que está lançando um novo livro – “A vida é trágica, viva!”, baseado na experiência que amargou no leito de um hospital, em São Paulo, onde foi internado em estado de urgência urgentíssima com apenas 30% de chance de sobreviver, segundo o diagnóstico médico.
O beijo da morte dá calafrio, informa ele, logo de saída, aos que porventura se interessem pelo relato do drama que vivenciou, em setembro do ano passado, e que já está em processo de impressão. Pelo que me disse, via imeio, a sensação é a de estar em um barco à deriva e expressar nos olhos a esperança de que logo navegará em águas calmas. Desde que alguém apareça, sei lá de onde,  e dome o barco, como quem doma burro brabo, para dar-lhe tento e rumo.
O certo é que durante o período em que ficou hospitalizado, à espera da cirurgia para receber três pontes de safenas e uma mamária - e depois, na convalescença – aproveitou para filosofar sobre a situação, elaborando uma espécie de “diário de uma quase morte”, compartilhado, inclusive, com amigos e familiares através de mensagens enviadas e recebidas pela rede social.    
Foi inevitável, pelo que diz, reflexões do tipo: “Talvez, se eu soubesse quando o frio da morte me fizesse sua visita definitiva, eu me desfizesse com rapidez desse manto inútil que me faz pensar que sou a melhor pessoa do mundo”.
A intervenção cirúrgica no Incor, que durou sete horas e meio, não o amedrontou. Mas deu para sentir aquele friozinho na barriga. Na hora da consulta, aliás, sofreu mais um enfarto, só que desta vez, menos mal, diante da médica.  
Durante o tempo em que ficou na UTI, oito dias, garante ter testemunhado momentos que ilustram a tragicidade da condição humana. Durante a noite ficava a perceber os pacientes, cada um com suas dores,  desesperos e dilemas. E nessa condição, abatido e sem forças, acha que conseguiu aprender o significado daquele sofrimento, dele e dos companheiros de leito.
            “Não driblei a morte. Eu a encarei e agora estou aqui para contar a história”, sentencia Stélio. Sendo assim, o livro, pelo que deduzo, é uma ode à vida. De alguém que descobriu o que realmente quis dizer   Blaise Pascal - É mais fácil suportar a morte sem pensar nela do que suportar o pensamento da morte sem morrer.
Pergunto ao amigo sobre a maior lição que ficou da sua experiência. “Os anjos morrem primeiro”, responde.