Por José Inginieros
A rotina é um esqueleto fóssil, cujas peças resistem à carcoma do século. Não é filha da experiência; é a sua caricatura. A primeira é fecunda, e engendra verdades; a outra é estéril, e as mata.
Na sua órbita giram os espíritos medíocres. Evitam sair dela, e cruzar espaços novos; repetem que é preferível o mau conhecido ao bom ignorado. Ocupados em desfrutar o existente, alimentam horror a toda inovação que perturbe a sua tranqüilidade, e lhes traga desassossegos. As ciências, o heroísmo, as originalidades, as invenções, a própria virtude, parecem-lhes instrumentos do mal, posto que desarticulam o edifício dos seus erros: como nos selvagens, nas crianças nas classes incultas.
Acostumados a copiar, escrupulosamente, os preconceitos do meio em que vivem, aceitam, sem verificação, as idéias distiladas no laboratório social: como esses enfermos de estômago imprestável, que se alimentam com substâncias já digeridas nos frascos das farmácias. Sua impotência para assimular idéias novas, obriga-os a adotar as antigas
A Rotina, síntese de todas as renuncias, é o hábito de renunciar a pensar. Nos rotineiros, tudo é menor esforço; a preguiça enferruja a sua inteligencia. Cada hábito é um risco, porque a familiaridade se forma no sentido das coisas detestáveis e das pessoas indignas. Os atos que, a princípio, provocavam pudor, acabam por parecer naturais; a retina percebe os tons violentos como simples matizes, o ouvido escuta as mentiras com igual respeito com que ouve verdades, o coração aprende a não se agitar diante de ações torpes.
Os conceitos são crenças anteriores à observação; os juízes exatos, ou errôneos, são consecutivos a ela. Todos os indivíduos possuem hábitos mentais; os conhecimentos adquiridos facilitam os vindouros, e marcam o seu caminho. Até certo ponto, ninguém pode subtrair-se à sua ação. Não são exclusividades dos homens medíocres; mas, nestes, representam sempre uma passiva obseqüência ao erro alheio. Os hábitos adquiridos pelos homens originais são genuinamente seus, intrínsecos: constituem o seu critério, quando pensam, e o seu caráter, quando atuam; são individuais e inconfundíveis. Diferem substancialmente da Rotina, que é coletiva e sempre perniciosa, extrínseca ao indivíduo, comum ao rebanho; consiste em ser contagiado pelos preconceitos que infestam a cabeça dos outros. Aqueles caracterizam os homens; esta empana as sombras. O indivíduo plasma para si próprio nos primeiros; a sociedade impõe a segunda. A educação oficial envolve esse perigo; tenta apagar toda originalidade, pondo iguais opiniões em cérebros diferentes. A cilada persiste no inevitável trato mundano com homens rotineiros. O contágio mental flutua na atmosfera, e acossa por todos os lados; nunca se viu um tolo originalizado pela contiguidade, mas freqüentemente é possível que um engenho se atoleie entre palpavos.
A mediocridade é mais contagiosa que o talento.
A rotina é um esqueleto fóssil, cujas peças resistem à carcoma do século. Não é filha da experiência; é a sua caricatura. A primeira é fecunda, e engendra verdades; a outra é estéril, e as mata.
Na sua órbita giram os espíritos medíocres. Evitam sair dela, e cruzar espaços novos; repetem que é preferível o mau conhecido ao bom ignorado. Ocupados em desfrutar o existente, alimentam horror a toda inovação que perturbe a sua tranqüilidade, e lhes traga desassossegos. As ciências, o heroísmo, as originalidades, as invenções, a própria virtude, parecem-lhes instrumentos do mal, posto que desarticulam o edifício dos seus erros: como nos selvagens, nas crianças nas classes incultas.
Acostumados a copiar, escrupulosamente, os preconceitos do meio em que vivem, aceitam, sem verificação, as idéias distiladas no laboratório social: como esses enfermos de estômago imprestável, que se alimentam com substâncias já digeridas nos frascos das farmácias. Sua impotência para assimular idéias novas, obriga-os a adotar as antigas
A Rotina, síntese de todas as renuncias, é o hábito de renunciar a pensar. Nos rotineiros, tudo é menor esforço; a preguiça enferruja a sua inteligencia. Cada hábito é um risco, porque a familiaridade se forma no sentido das coisas detestáveis e das pessoas indignas. Os atos que, a princípio, provocavam pudor, acabam por parecer naturais; a retina percebe os tons violentos como simples matizes, o ouvido escuta as mentiras com igual respeito com que ouve verdades, o coração aprende a não se agitar diante de ações torpes.
Os conceitos são crenças anteriores à observação; os juízes exatos, ou errôneos, são consecutivos a ela. Todos os indivíduos possuem hábitos mentais; os conhecimentos adquiridos facilitam os vindouros, e marcam o seu caminho. Até certo ponto, ninguém pode subtrair-se à sua ação. Não são exclusividades dos homens medíocres; mas, nestes, representam sempre uma passiva obseqüência ao erro alheio. Os hábitos adquiridos pelos homens originais são genuinamente seus, intrínsecos: constituem o seu critério, quando pensam, e o seu caráter, quando atuam; são individuais e inconfundíveis. Diferem substancialmente da Rotina, que é coletiva e sempre perniciosa, extrínseca ao indivíduo, comum ao rebanho; consiste em ser contagiado pelos preconceitos que infestam a cabeça dos outros. Aqueles caracterizam os homens; esta empana as sombras. O indivíduo plasma para si próprio nos primeiros; a sociedade impõe a segunda. A educação oficial envolve esse perigo; tenta apagar toda originalidade, pondo iguais opiniões em cérebros diferentes. A cilada persiste no inevitável trato mundano com homens rotineiros. O contágio mental flutua na atmosfera, e acossa por todos os lados; nunca se viu um tolo originalizado pela contiguidade, mas freqüentemente é possível que um engenho se atoleie entre palpavos.
A mediocridade é mais contagiosa que o talento.