segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Maravilhas da Filosofia

Henry Thomas
A SABEDORIA ORIENTAL
O primeiro filósofo do mundo

ACREDITA-SE geralmente que foram os gregos os _ primeiros filósofos (amantes da sabedoria) do mundo. Isso, porém, está muito longe de ser verdadeiro. Os egípcios começaram a sondar os mistérios da filosofia quasi 3.000 anos antes dos gregos. O primeiro grande filósofo, que a história menciona, foi o egípcio Ptah-hotep, que vi veu há uns 5.000 anos passados.
Ptah-hotep era Primeiro Ministro do Faraó. Quando se retirou da vida ativa, escreveu um "livro de sabedoria" para seu filho. E’ obra de um homem que viveu intensamente e que muito pensou. "A velhice está chegando — escreve êle no prefácio de seu livro — e quem é velho está engolfado num oceano de miséria. Os olhos estão enfraquecidos, os ouvidos moucos, as pernas frouxas e o coração entristecido… Mas o pensamento está cheio da sabedoria da experiência… Ouve com atenção, meu filho, as palavras de teu pai, para que sua experiência possa conduzir teus passos".
E depois Ptah-hotep prossegue "para encadear seu filho com um colar de sabedoria". Algumas das pérolas desse colar são dignas do próprio Salomão. "Não desprezes — adverte êle ao filho — aqueles que sabem menos do que tu. Porque não há limite para o saber. Há ocasiões em que até mesmo os ignorantes podem ensinar aos sábios. .. As palavras bondosas são mais raras do que esmeraldas, e um coração gentil é o mais precioso dos tesouros….. Se quiseres ser sábio, gera um filho. Se êle seguir
OS teus passos, não poupes teu louvor; se êle não seguir teus passos, não poupes a vara… Mas não uses a vara com cólera… Coisa para ser lembrada e querida é o caráter de um bom filho…"
"Ama tua mulher e não te juntes a outras mulheres… Fala quando tiveres alguma coisa suave a dizer; do contrário, guarda silêncio.. . Se quiseres governar os outros homens, aprende a obedecer e a cultivar a bondade.. . Em todas as ocasiões aprende a sabedoria do império sobre ti mesmo… Esse é o meio de ser feliz, esse é o caminho para o êxito".
Cinco mil anos se passaram desde o tempo em que o bom velho Ptah-hotep escreveu isso, mas o vinho de sua sabedoria conservou muito de sua côr e de sua fragrância até hoje. Podemos ainda bebê-lo e sentir-nos refrigerados.

O Tolstoi egípcio

NÃO muito depois de Ptah-hotep, viveu outro grande filósofo no Egito. Esse homem, porém, não foi um sereno observador da vida, mas um velho triste e desiludido. Para êle, a vida não era senão uma sucessão de reveses. "O homem, lamenta-se êle, nada mais aprendeu senão a opressão, a violência, a luta e a decadência". Como Tolstoi, acreditava que a melhor coisa para a raça humana seria desaparecer. "Pudesse a raça humana chegar a um fim, pudesse não haver mais nascimento, sofrimento e morte, e todo o mal se apagaria para sempre da face da terra".
Como os filósofos pessimistas dos nossos dias, preferia a morte à vida. "A suave Morte está diante de mim, a Morte, o bálsamo que cura todos os males, o fragante caramanchel de rosas que nos defende do deslumbrante
sol da vida, o marinheiro amigo que nos conduz à enseada da paz. A suave Morte está diante de mim, a Morte, a flor de loto que faz com que esqueçamos nossos pesares, o rio dentro de cujas águas lavamos nossas tristezas, o sossegado ono depois da febril batalha da vida. Salve, ó Morte! Fui um escravo na prisão da vida. Liberta-me de minhas cadeias e leva-me para casa, ó calma e aliviadora morte". Os egípcios, como vedes, tinham não somente seus Salomões, mas seus Schopenhauers e seus Tolstois. Mesmo na infância, a raça humana parece já estar algum tan to desiludida da vida. Não obstante, a vida, a despeito dos cépticos e dos pessimistas que tem falado mal dela, durante 5.000 anos, consegue, seja como fôr, prosseguir na sua marcha.



domingo, 2 de outubro de 2011

EU E ELA NO FACEBOOK


“Eu nada construo a meu redor, pois sou um ser de estirpe orgulhosamente profana. Qual um Zaratustra moderno, eu carrego cadáveres às costas, mas poucos são os que conseguem acompanhar a minha caminhada, sempre sob a mais absoluta diretriz dos instintos”. (EU)
***
- Boa madrugada, amiga...
- Oi, amigo, tá sem sono?
- Sou um notívago, fico cá com meus botões tentando voar para qualquer lugar onde a voz do homem seja fraca.
- Huumm...
- Dois...
- Hehehe...
- E você, ainda feliz...
- Sempre, para que ficar triste, né...
- Tristeza não vale a pena.
- Não vale não, amigo, dá dor de cabeça... E eu não gosto de tê-la.
- Eu gosto muito de escrever sobre a emoção humana, é algo fascinante, principalmente depois de compreender que usamos no máximo dez por cento de nossa cabeça animal, como dizia Raul Seixas. Decididamente, julgo o homem como um animal emocional.
- O homem é o ser mais vulnerável que existe, justamente por esse motivo.
- Exato, e esse potencial de vulnerabilidade é tão grande que dar medo, as pessoas pensam pelo coração... O meu coração, coitado, só funciona 45%.
- Somos emocionais e irracionais... 45% já tá de bom tamanho...
- Amo e odeio pela metade, sempre digo isso agora, depois das safenas.
- Eu, se fosse você, apenas odiava... Amar faz mal para o coração...
- Odeio em maior tamanho.
- Ótimo, assim iremos conversar por mais tempo.
- Somente amo a medida de 15%. Ninguém gostaria de tão pouco amor, acho que não...
- Muito bom, e de acordo com o que você disse, na verdade, então, são apenas 7,5%... Se for verdadeiro, está de bom tamanho!
- Com o desconto dos dias de lundum fechamos entre 3% e 4%.
- Huumm...
- Mas bem intenso.
- Bem, levando-se em consideração que poderia ser bem pior, está pra lá de bom.
- E, na verdade, nenhuma mulher suportaria amor acima de 10%, é uma bomba que explode a alma.
- Rsrsrs... Na verdade, amigo, mulher é um bicho meio esquisito...
- Mas é um bicho bom, amiga. Se eu tivesse que amá-la, começaria com 1%.
- Digamos que não sou muito chegada, mas elas são legais.
- Trazem segredos no corpo, cheiros extraordinários.
- Principalmente depois da maternidade...
- Mulher vale a pena até depois de ser vovó. O certo é que homem e mulher nunca vão se entender, e, se um dia se entender vão acabar com a graça.
- Dizem, pelo menos, que um homem só se tornaria amigo de uma mulher, se a achasse completamente desinteressante.
- Tempo bom era na idade da caverna, a gente dava uma porretada na cabeça dela, botava no ombro e levava pra casa.
- Verdade... Não se fazem mais homens como antigamente...
- Hoje temos que mandar flores, levar para jantar, fazer um poema, presentear com chocolates e dar beijos doces, para somente depois disso...
- Não é por nada não... Mas fora os beijos, todo o resto é dispensável...
- Concordo, mas sempre me traio. Gosto de um pouco de romantismo...
- Não existe hipocrisia no coito... Ou é, ou não é! Contato!
- Mas depois do contato, tem que ter a prosa gostosa, os beliscões, as brincadeiras, as piadas...
- Antes também.
- Sempre.
- Para mim, a inteligência é mais atraente do que as outras manifestações de afeto.
- Pelo menos nisso concordamos.
- Flores... Gosto delas no jardim...
- Tempos atrás, tinha uma campanha ecológica: em mulher não se bate nem com uma flor. Estraga a flor...  Quem disse que os machistas não tem senso de humor...
- Realmente! São pródigos.
- Machistas e feministas. Duas bostas.
- No duro! Uma vez eu me vi num antro feminista discutindo relacionamentos... Quase me crucificaram quando disse que adorava servir a quem amo...
- Devia dar a elas o poema da Cecília Meireles, quando ela diz que adora preparar o peixe que o marido pescou...
- Simplesmente disse o que eu penso.
- isso é o que importa.
- Eu gosto e não vejo nada de errado ou pecaminoso nisso, e não vou dizer nada para agradar ninguém.
- Eu gosto de ser servido, tento compensar com amor e proteção.
- Pronto! Então você é homem!
- Ainda creio nessa porra de amor, não sei por que. Mas, sem isso tudo seria pior ainda do que é.
- Mas quem é que não crê? Apenas faz como São Tomé...
- Acho que é isso que faz a joça desse mundo se mover!
- É, mas essa joça está deveras emporcalhada do que não presta e isso acaba estragando tudo!
- Você parece que está mais pessimista do que eu...
- Huumm... Só um pouquinho... Sabe... Eu odeio o mundo atual... Aliás, eu odeio o mundo que não consigo entender.
- É que pessoas inteligentes não conseguem dar uma de avestruz, então, o ódio é natural... Mas é bom não perder esta capacidade de odiar.
- Pense bem: o homem se diz o único animal racional, inteligente e capaz de grandes realizações, sob a face do planeta... Por que faz tanto mal?
- Tudo isso começou quando ele inventou Deus...
- É... As religiões são o maior mal da humanidade!
- Eles acabaram com a nossa inocência instintual, e colocaram o bem como valor universal.
- O bem e o mal são uma questão de referencial...
- Por isso me tornei nietzschiano. Estou acima do bem e do mal, vivo conforme meus próprios valores. Nunca corri atrás de sinecuras, status social, quero ser o que sou...
- Concordo e pratico!
- E não me acho um mal sujeito... Até sou capaz de atos de ternuras...
- Sentimentos.
- É tão bom conversar contigo, amiga...
- Gosto de conversar também contigo.
- Isso é bom.
- Mas me acham meio biruta...
- Mais do que eu, não...
- Às vezes sou esquisita.
- Mais do que eu, não...
- Por não acreditar em paradigmas... Por ser muito realizada.
- Triste de quem precisa de um referencial, mas o legal nisso tudo é que, com sua realização, você deu uma chega pra lá neles, isso é demais! Legal!
- Pratico o que acredito... E quando cismo... Nem por tortura mudo, sou um bocado cabeça dura...
- Isso é princípio.
- Sei lá o que é... Mas sou assim.
- Não mude, doa a quem doer, não mude.
- Eu adoro ser útil, mas odeio ser usada, já tô bem crescidinha para mudar... Só o Alzheimer me preocupa...
- Ser útil nos realiza e ser usado nos aterroriza.
- É vero!
- Esse alemão tá acabando com a vida de muita gente!
- Esse aí é o meu maior terror! Tenho um medo danado dele! Queria morrer assim: vapt-vupt! E logo!
- Eu queria morrer fazendo amor, nada de viver muito...
- Huumm... Boa ideia!
- Quero viver bem até os 65 anos, faltam, pois, apenas 13.
- Eu pretendo sair de cena um pouco antes... Fazer como os elefantes...
- Se afastar e deitar... Podíamos fazer um trato...
- Afastar-se e simplesmente morrer... O homem move-se na vida e na história pelo instinto, pela vontade, e por que não morrer da mesma forma?
- isso sim é puro Nietzsche.
- Sei disso...
- Os tolos não pensam assim, somente os grandes espíritos.
- Bem... Seja lá o que for eu quero ser como os elefantes...
- Eu serei também um elefante, tu serás uma aliá...  Afastemos-nos, pois, desta hipocrisia...
- Minha amiga disse que estou sofrendo de um processo oxidativo cerebral efeito H2O2...
- Se for contagioso quero encostar, ô se quero, em você.
- Hehehe... Ai você vai ficar loiro!
- Mas não burro!
- kkkkkkkkkkk, ah, isso não!
- Acho que vou correr o risco.
- Estou mais loira do que sempre... Será que ela pode estar certa?
- Nunca confie em um diagnóstico, principalmente se ela for médica...
- Rsrsrs... E ela é! Ela é!
- Então, não tem com o que se preocupar...
- Pronto! Não acreditarei mais na possibilidade dela ter razão!
- Isso! Isso! Agora vamos viver o tempo que nos será permitido!
- Continuarei a me guiar pelos ditames da minha consciencia! Serei apenas eu, e pensarei apenas no que me venha à cabeça... Ora, por que não?
 - Esse é o segredo de ser feliz...
- Vamos nos tornar elefantes!
- Juntos!
- Eu sou feliz por isso!
- E eu sou feliz por você!
- Bem, esse pacto é dependente...
- De que...
- De irreverência ambígua...
- Acho que isso não nos faltará, será o combustível.
- De não aceitação das prioridades como definitivamente nossas.
- Sem privilégios.
- Poderemos ser grandes amigos elefantes!
- Com inevitáveis trombadas! Pelo menos três trombadas por semana!
- kkkkkkkk... Amigos não podem ter atrativos para serem, definitivamente, amigos.
- Os atrativos são preciosos.
- E creio que de outra forma, haverão protestos...
- Se não houver protesto, não valera a pena, mas sem privilégios.
- Sem pecar...
- Sem pecar não vale a pena, mas sem privilégios.
- Exato... Quem quiser que nos siga!
- Batido o martelo! Que marchem os elefantes!
- À luta!
- Em um fremente corpo a corpo!
- Ó, céus, e onde ficará a atraente imparcialidade?
- Juntos aos pastores pedindo dinheiro para os cordeiros de Deus. Nós suaremos, choraremos, amaremos, odiaremos, venceremos, ficaremos extasiados como dois elefantes, longe da floresta.
- E bem distante deles?
- Muito distante, muito distante, pois, eles fedem a distancia.
- Ótimo, que os sigam os impuros!
- E todos os desprovidos de amor! E os maculados pela ignominia! E os fechados para a arte e para vida!
- Eles! Eles!
- Sim, eles! Urge o nosso primeiro combate!
- Estaremos unidos numa fluidez constante.
- E o mais gostoso de tudo: continuaremos mortais! E no fim de tudo serás feliz!
- E pode existir apreço?
- Sem apreço não vale a pena, mas sem privilégios.
- E o privilégio de estar só?
- Sem negociação...
- Huumm... Isso está me parecendo uma determinação...
- Assim não podemos morrer juntos, como os elefantes. Além do mais, estar só não é um privilegio, é uma necessidade.
- Valho-me dessa necessidade...
- Eu também. Por isso, cá estamos nós.
- Quero, em vida ser intensa, mas serena por fim...
- Serena, por fim, por mim, por ti, por que não desabrochas aliá inquieta e translúcida...
- Espero pela hora...
- Não me deixa esperar muito a muda vingar... Faz chuva de vez em quando, dá para vingar na terra seca, até no coração mais árido...
- Na aridez desabrocha o cacto... Ele tem espinhos...
- inevitável o machucamento, mas, é no cacto que durante a seca o gado se vale para comer e beber.
- Espinhoso, mas úmido... Sua polpa farta os desvalidos... Sei que não pertences a esse grupo...
- Este cacto pode ser quentinho, polpudo, cheiroso e molhado, mas não se preocupe, a mim não faltarão metáforas e paciência...
- E desapego...
- Para desapegar é preciso primeiro pegar, mas, ainda assim, não se preocupe... Já passou o tempo de se desesperar... O tempo é de ser livre, amar livremente.
- Passei o tempo de muita coisa...
- Mas jamais passará o tempo de morrer como os elefantes.
- Claro que não... Esse está bem perto, eu estabeleci um tempo...
- Então, está perto o tempo definitivo, o nosso tempo, que assim seja! Avoé Baco! Que o vinho nos guia nesta jornada.
- Nesse pouco tempo que me resta, só farei o que quero...
- Que assim seja, mas o que mais queres, por fim...
- Nem eu sei... Depende do dia e da hora, e das particularidades do clima... Sei lá... Não há nada de exato ou definitivo, na verdade, eu queria estar em outro mundo... Onde não houvesse a mentira, a maldade, a ambição, ah...
- Muitas dúvidas, numa delas a meteorologia pode ajudar, mas lamento informar que não existe este mundo que desejarias estar, apenas anseio que o acaso te premie com a alegria dos bons momentos com os raros espíritos...
- Pensamentos hedonistas me invadem... Ora bolas!
- Eles fazem bem, coloque-os em pratica também, é um direito...
- Estou colocando, sabe, mas eu tenho medo do vazio, não de estar só.
- Nesse caso, por que não me tirar para dançar...
- Huumm... Boa ideia. Adoro dançar!
- Então, é assim, que começaremos. Como um Zaratustra numa dança. O resto virá por si!
- Huumm... Falta você me entregar o seu livro...
- O baile é uma boa oportunidade, vou dormir como um gato borralheiro, e sonhar que perdi os sapatos nesta festa...
- Huumm... Certo. E eu guardarei seu sapatinho de cristal para a próxima oportunidade! Decida-se!
- Já decidi. E todos os meus desejos já foram insinuados. Boa noite!
- Boa noite!
***
"Eu traço círculos e fronteiras sagradas em torno de mim; sempre mais raros são os que comigo sobem montanhas sempre mais altas – eu construo um maciço de montanhas sempre mais sagradas". (ELA)